Os melhores momentos do cineasta francês Philippe Garrel
ocorrem quando ele envereda para o cinema de gêneros a partir de seu estilo
cerebral e retrô. O resultado configura obras instigantes e perturbadoras como o
policial “Inocência selvagem” (2001) e o horror “A fronteira da alvorada”
(2008). Quando Garrel enfoca exclusivamente o drama, como em “Os amantes
constantes” (2001), entretanto, acaba não se saindo tão bem. E esse parece ser
o caso de “Um verão escaldante” (2010). O cineasta consegue extrair uma
interessante química em seus atores, assim como estabelece uma direção de
elenco que se vale muito mais de um iconismo do que de profundidades psicológicas.
A fotografia evoca uma certa atmosfera atemporal, pelos seus tons esmaecidos,
provocando algum encanto estranho, ainda mais pela habitual abordagem emocional
distanciada do diretor. O que pega mal para o filme é que esses bons elementos
isolados não conseguem interagir de forma convincente devido à narrativa amorfa
estabelecida por Garrel. É como se ele se perdesse numa viagem estética nostálgica
e blasé da Nouvelle Vague – pode-se até sentir simpatia pelo estilo que lembra
algo agradável no universo do nosso imaginário cinematográfico, mas sua
inconsistência como obra acabada o joga no limbo do descartável.
Um comentário:
É, nem todos os cineastas autorais são imbatíveis.
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