Os dilemas que envolvem o grafite como meio de expressão
cultural tanto refletem discussões contemporâneas como atemporais sobre a
natureza da arte e a sua importância para a sociedade. Fenômeno típico desses
tempos urbanos e caóticos que vivemos, o grafite tem dificuldade em receber um
reconhecimento amplo e oficial como arte pelo fato de ter sua origem vinculada às
ruas e mesmo a um certo caráter transgressivo. Afinal, as pinturas são feitas
em muros e paredes públicos e particulares, assim como seu “gêmeo” existencial,
a pichação – esse último, de modos e fins absolutamente “foras-da-lei”. O
documentário “Cidade cinza” (2012) expõe tais dilemas ao analisar casos
pontuais que mostram o conflito entre consagrados grafiteiros brasileiros com a
prefeitura municipal de São Paulo, quando essa tinha por alcaide Gilberto
Kassab. O filme não tem o mesmo grau de contundência dramática e nem o
formalismo sujo de “Luz, câmera, pichação” (2011), obra documental que versava
sobre as origens da pichação no Brasil, mas mesmo assim oferece um interessante
retrato temático, principalmente quando evidencia que a visão repressiva e mesquinha
de burocratas acaba se tornando o único parâmetro fático para que o trabalho
criativo e minucioso de artistas seja apagado ou destruído sem qualquer
possibilidade de discussão em nome da assepsia visual e de um discutível “bom
gosto” estético. E a partir desse caso particular, mostra também a mentalidade
provinciana de governo e sociedade ao se verem diante de manifestações artísticas
que destoam dos ditames óbvios e superficiais do que habitualmente é vendido
como “entretenimento saudável”.
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