terça-feira, abril 01, 2014

Instinto materno, de Calin Peter Netzer ***1/2


Nos moldes de outras produções conterrâneas como “A morte do senhor Lazarescu” (2005) e “4 meses, 2 semanas e 3 dias” (2007), o filme romeno “Instinto materno” (2013) impressiona pela tom seco da sua narrativa e pela crueza com que expõe as relações humanas. A partir da história de uma mulher de classe média alta (Luminita Gheorghiu) que faz de tudo para livrar a cara do filho (Bogdan Dumitrache), com quem vive às turras, que atropelou e matou uma criança de família humilde, o diretor Calin Peter Netzer faz uma radiografia implacável de sociedade contemporânea ocidental, tanto na forma com que retrata distorcidos valores ditos “civilizados” quanto a incapacidade de mãe e filho se relacionarem de forma digna. No nível familiar e também nas relações de classe social, o filme perturba ao evidenciar as relações de dominação que se estabelecem em torno da protagonista no plano íntimo, nas várias oportunidades em que procura controlar a vida particular do filho adulto, e num plano mais amplo, quando procura usar de sua influência econômica para subjugar e convencer policiais, juristas e a própria família da vítima de que seu primogênito não deve ser processado e condenado. O tom sombrio e pessimista da narrativa encontra soluções visuais bastantes expressivas por parte de Netzer, que se vale de uma atmosfera tensa que acentua a sensação de mal estar constante que permeia o filme e também de uma direção fotografia que explora com precisão claros e escuros em cada fotograma, como se fosse uma metáfora imagética a reforçar o lado obscuro das personagens. A conclusão de “Instinto materno” encontra uma possibilidade de redenção para mãe e filho, ainda que de maneira difusa, confirmando o forte caráter humanista do filme.

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