Nos moldes de outras produções conterrâneas como “A morte do
senhor Lazarescu” (2005) e “4 meses, 2 semanas e 3 dias” (2007), o filme romeno
“Instinto materno” (2013) impressiona pela tom seco da sua narrativa e pela
crueza com que expõe as relações humanas. A partir da história de uma mulher de
classe média alta (Luminita Gheorghiu)
que faz de tudo para livrar a cara do filho (Bogdan Dumitrache),
com quem vive às turras, que atropelou e matou uma criança de família humilde,
o diretor Calin Peter Netzer faz uma radiografia implacável de sociedade
contemporânea ocidental, tanto na forma com que retrata distorcidos valores
ditos “civilizados” quanto a incapacidade de mãe e filho se relacionarem de
forma digna. No nível familiar e também nas relações de classe social, o filme
perturba ao evidenciar as relações de dominação que se estabelecem em torno da
protagonista no plano íntimo, nas várias oportunidades em que procura controlar
a vida particular do filho adulto, e num plano mais amplo, quando procura usar
de sua influência econômica para subjugar e convencer policiais, juristas e a
própria família da vítima de que seu primogênito não deve ser processado e
condenado. O tom sombrio e pessimista da narrativa encontra soluções visuais
bastantes expressivas por parte de Netzer, que se vale de uma atmosfera tensa
que acentua a sensação de mal estar constante que permeia o filme e também de
uma direção fotografia que explora com precisão claros e escuros em cada
fotograma, como se fosse uma metáfora imagética a reforçar o lado obscuro das
personagens. A conclusão de “Instinto materno” encontra uma possibilidade de
redenção para mãe e filho, ainda que de maneira difusa, confirmando o forte caráter
humanista do filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário