O diretor Paulo Morelli envereda por um gênero bem definido
em “Entre nós” (2013), o do melodrama geracional, para fazer um retrato das
aspirações e desilusões de um grupo de “jovens adultos” aspirantes a escritores
no período de 1992 e 2002, em que esse recorte intimista também serviria para
focalizar o próprio imaginário dos dilemas e contradições do Brasil (ou pelo
menos de sua classe média) naquele período. Morelli mostra considerável competência
na fluência da narrativa e oferece uma bonita concepção visual para o filme ao
focalizar a trama numa casa de campo no meio de montanhas. O que incomoda na
produção é um certo grau de esquematismo formal e temático que tira a
naturalidade da encenação bem como revela uma certa superficialidade incômoda.
As caracterizações de situações e personagens tendem para estereótipos previsíveis,
o que acaba atenuando o impacto que o filme poderia ter sobre o espectador. O
próprio mote principal do roteiro (a do escritor que assumiu a autoria do livro
do amigo que morreu e acabou recebendo indevidamente os louros) acaba se
revelando um recurso cansativo que não explora de forma devida as
possibilidades criativas da premissa, jogando o filme, em alguns momentos, para
a vala do suspense capenga. E mesmo como visão pessoal da condição política e
social nacional da época “Entre nós” fica a dever pelos diálogos discursivos e
poucos sutis – o subtexto chega ao espectador de forma atabalhoada e um tanto
ingênua. E no próprio elenco há descompasso nas composições dramáticas, em que
os registros histriônicos de Caio Blat e Marta Nowill destoam das interpretações
mais sutis de Paulo Vilhena, Maria Ribeiro e Carolina Dieckmann.
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