sexta-feira, abril 11, 2014

Virginia, de Francis Ford Coppola **


Em um primeiro momento, pode parecer incompreensível que o cineasta responsável por algumas das obras mais geniais da história do cinema pôde se contentar em entregar um filme tão mequetrefe e ordinário quanto “Virgínia” (2012). O roteiro batido, as trucagens capengas, a incapacidade se manter uma atmosfera de tensão decente, a narrativa burocrática, enfim, tudo isso faz mais pensar numa produção qualquer de um diretor iniciante do que vinda de um nome tão consagrado quanto Francis Ford Coppola. E se pensarmos que “Tetro”, o penúltimo filme de Coppola, era uma obra sóbria e até rigorosa no seu formalismo e construção dramática, mais se estranha essa opção do diretor por uma concepção estética tão desleixada. Por outro lado, essa fuleiragem do filme parece ter uma conotação simbólica – muita coisa em “Virgínia” alude a algo de decadência, a um certo tom crepuscular, a começar pela caracterização de um gordo e canastrão Val Kilmer no papel do protagonista, um escritor picareta e traumatizado por tragédias familiares. Além disso, há a impressão de que Coppola buscou uma conexão afetiva com o seu próprio passado, bem no início de sua carreira, quando colaborava com o produtor Roger Corman em películas baratas de horror, com destaque para “Demência 13” (1963), que, por sinal, era muito melhor que esse “Virgínia”. Assim, é como se Coppola reforçasse o seu amor pelo cinema de gênero (afinal, é o mesmo homem que dirigiu o extraordinário e sangrento “Drácula de Bram Stoker”), mas também afirmasse a sua condição atual de quase marginalidade perante a Hollywood contemporânea ao lançar algo tão tosco quanto “Virgínia”.

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