Em um primeiro momento, pode parecer incompreensível que o
cineasta responsável por algumas das obras mais geniais da história do cinema pôde
se contentar em entregar um filme tão mequetrefe e ordinário quanto “Virgínia”
(2012). O roteiro batido, as trucagens capengas, a incapacidade se manter uma
atmosfera de tensão decente, a narrativa burocrática, enfim, tudo isso faz mais
pensar numa produção qualquer de um diretor iniciante do que vinda de um nome tão
consagrado quanto Francis Ford Coppola. E se pensarmos que “Tetro”, o penúltimo
filme de Coppola, era uma obra sóbria e até rigorosa no seu formalismo e
construção dramática, mais se estranha essa opção do diretor por uma concepção
estética tão desleixada. Por outro lado, essa fuleiragem do filme parece ter
uma conotação simbólica – muita coisa em “Virgínia” alude a algo de decadência,
a um certo tom crepuscular, a começar pela caracterização de um gordo e canastrão
Val Kilmer no papel do protagonista, um escritor picareta e traumatizado por
tragédias familiares. Além disso, há a impressão de que Coppola buscou uma
conexão afetiva com o seu próprio passado, bem no início de sua carreira,
quando colaborava com o produtor Roger Corman em películas baratas de horror,
com destaque para “Demência 13” (1963), que, por sinal, era muito melhor que esse
“Virgínia”. Assim, é como se Coppola reforçasse o seu amor pelo cinema de gênero
(afinal, é o mesmo homem que dirigiu o extraordinário e sangrento “Drácula de
Bram Stoker”), mas também afirmasse a sua condição atual de quase marginalidade
perante a Hollywood contemporânea ao lançar algo tão tosco quanto “Virgínia”.
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