A formatação de “Hoje eu quero voltar sozinho” (2013) é
tradicional, vinculada ao gênero drama romântico no estilo “boy meets girl”,
com leves toques cômicos. Mas talvez a força motriz do filme esteja fincada
justamente nesse aparente convencionalismo narrativo, que apresenta uma única
(e fundamental) variação: na verdade, o estilo é “boy meets boy”. De certa
forma, é como se aquelas clássicas produções oitentistas de John Hughes fossem
recriadas sob um prisma mais agridoce e menos irônico e em sintonia com os
dilemas existenciais da juventude desse século. A questão da homossexualidade é
focada de forma tão leve que beira a ousadia – elementos geralmente associados
a essa temática como preconceito e culpa são somente tangenciados como se
fossem apenas meros detalhes. O aspecto gay do relacionamento entre os garotos é
uma nuance de um espectro maior que envolve o universo adolescente contemporâneo:
o valor das amizades, a perda da inocência, os conflitos geracionais com os
adultos, a descoberta das primeiras paixões. O estilo de filmar do diretor
Daniel Ribeiro é fluido, com uma concepção visual luminosa e sem maiores afetações,
mas que se permite a alguns truques estéticos e sensoriais interessantes, como
nas belas e sensuais sequências oníricas do protagonista Leonardo (Guilherme
Lobo). Esse tom geral em que tudo em “Hoje eu quero voltar sozinho” parece tão
casual e natural, no final das contas, acaba revelando uma contundência
inesperada em meio a um cenário cultural e comportamental ainda permeado por
conotações obtusas e obscurantistas vindas de setores da mídia e da sociedade.
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