Num primeiro momento, a premissa da trama de “Um castelo na
Itália” (2013) não parece complexa, ao focar uma família economicamente
abastada que de repente se vê obrigada a se desfazer de bens tradicionais
(inclusive o castelo do título) para saldar dívidas com o fisco francês. O que
torna inquietante essa obra dirigida pela também atriz Valeria Bruni Tedeschi,
que inclusive atua como protagonista da produção, é uma encenação livre e atípica
na sua abordagem que trafega entre o cômico, o estranho e o improvisado sem
maiores cerimônias. A movimentação do elenco em cena e a direção de fotografia
de registro seco e despojado emulam um cinema intuitivo e vigoroso. A narrativa
tem um certo pendor para o fragmentado: o entendimento do que se passa no
roteiro vem por excertos sutis dos diálogos, pela tensão dramática latente e
silenciosa entre as personagens. Também predomina no filme uma atmosfera de “nobre
decadência”: os membros da família se comportam como dinossauros feridos e à
beira da extinção, tanto pela doença quanto pela velhice ou por instabilidades
psicológicas, mas sem nunca perder uma ácida verve irônica em relação a sua
derrocada e o mundo que os rodeia. Um dos méritos de Tedeschi é fazer com que o
espectador se realmente se interesse por essas criaturas derrotadas, provocando
a curiosidade de como teriam sido os seus dias de glórias. Nesse sentido, a
figura do artista alcoólatra e endividado Serge (Xavier Beauvois), antigo
amigo/amante da família, representa a síntese da nostalgia melancólica que
emana com naturalidade de “Um castelo na Itália”. No mais, a trilha sonora
composta por antigas cançonetas e chansons além de expressivos temas de música
clássica pontua com sensibilidade essa elegia aos bons tempos que não voltam
mais.
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