segunda-feira, abril 07, 2014

Um castelo na Itália, de Valeria Bruni Tedeschi ***


Num primeiro momento, a premissa da trama de “Um castelo na Itália” (2013) não parece complexa, ao focar uma família economicamente abastada que de repente se vê obrigada a se desfazer de bens tradicionais (inclusive o castelo do título) para saldar dívidas com o fisco francês. O que torna inquietante essa obra dirigida pela também atriz Valeria Bruni Tedeschi, que inclusive atua como protagonista da produção, é uma encenação livre e atípica na sua abordagem que trafega entre o cômico, o estranho e o improvisado sem maiores cerimônias. A movimentação do elenco em cena e a direção de fotografia de registro seco e despojado emulam um cinema intuitivo e vigoroso. A narrativa tem um certo pendor para o fragmentado: o entendimento do que se passa no roteiro vem por excertos sutis dos diálogos, pela tensão dramática latente e silenciosa entre as personagens. Também predomina no filme uma atmosfera de “nobre decadência”: os membros da família se comportam como dinossauros feridos e à beira da extinção, tanto pela doença quanto pela velhice ou por instabilidades psicológicas, mas sem nunca perder uma ácida verve irônica em relação a sua derrocada e o mundo que os rodeia. Um dos méritos de Tedeschi é fazer com que o espectador se realmente se interesse por essas criaturas derrotadas, provocando a curiosidade de como teriam sido os seus dias de glórias. Nesse sentido, a figura do artista alcoólatra e endividado Serge (Xavier Beauvois), antigo amigo/amante da família, representa a síntese da nostalgia melancólica que emana com naturalidade de “Um castelo na Itália”. No mais, a trilha sonora composta por antigas cançonetas e chansons além de expressivos temas de música clássica pontua com sensibilidade essa elegia aos bons tempos que não voltam mais.

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