Confesso que não tenho grandes conhecimentos sobre teologia.
Dessa forma, não posso avaliar “Noé” (2014) pela sua profundidade no campo da religião.
Só consigo ter a impressão superficial que o filme de Darren Aronofsky não tem
o perfil de converter neófitos para a religião em questão e nem a capacidade de
abalar a fé dos crentes. Deus é retratado na produção mais como uma entidade
vingativa e de razões inescrutáveis. Assim, o que dá para considerar realmente é
se o filme é um espetáculo cinematográfico satisfatório, e nesse quesito até
que Aronofsky dá conta do recado. Na realidade, o filme está mais para uma versão
super-heróica da história de Noé do que para algum drama sério sobre
catolicismo e afins. A trama é baseada numa HQ escrita pelo próprio Aronofsky e
a concepção visual do filme, em alguns momentos, realmente remete a “comics” na
escola da revista européia Metal Hurlant (impressão essa, aliás, que “A fonte
da vida”, filme anterior de Aronofsky e que também se baseava nuns quadrinhos
próprios do cineasta, já deixava bem forte). Quando a violência e os efeitos
especiais tomam conta da encenação, o ritmo narrativo de “Noé” fica bem
intenso, configurando os melhores momentos do filme. O que impede que a obra
transcenda é um apego a excessos de convencionalismos formais e temáticos. Do
jeito que ficou, “Noé” é uma produção de aventura respeitável, algo como a Bíblia
adaptada segundo a ótica Marvel, mas ainda assim abaixo do melhor que Aronofsky
já realizou (“A fonte da vida”, “O lutador”, “O cisne negro”).
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