quinta-feira, abril 10, 2014

Cortinas fechadas, de Jafar Panahi e Kambozia Partovi ***


Determinados filmes não podem ser devidamente apreciados e compreendidos sem que se procure entender também contexto social e político que os cercam. Esse é justamente o caso da produção iraniana “Cortinas fechadas” (2013). Fruto de uma conjuntura nacional em que predominam a censura e as perseguições políticas, a obra dirigida por Jafar Panahi e Kambozia Partovi se vale de uma intrincada estrutura narrativa, em que suspense, metalinguagem e recursos documentais geram uma obra desnorteante, em que os limites da realidade e a fantasia nunca são precisos. Ao longo do filme, a atmosfera de tensão é constante, apesar da presença física daqueles que oprimem as personagens em cena nunca se configurar de forma plena. A produção evoca esse poder repressivo castrador pela sugestão, usando sons, silêncios e gestos. Nesse sentido, a encenação plena de angústia individual perante uma entidade opressora que se apresenta como uma sombra ameaçadora cujos ataques e motivações são imprevisíveis configura uma ambientação kafkaniana. Tais escolhas formais e temáticas resultam numa obra carregada de pesada simbologia, por vezes até hermética, mas que se revela coerente e natural com a presente situação política-religiosa do Irã.

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