Determinados filmes não podem ser devidamente apreciados e
compreendidos sem que se procure entender também contexto social e político que
os cercam. Esse é justamente o caso da produção iraniana “Cortinas fechadas” (2013).
Fruto de uma conjuntura nacional em que predominam a censura e as perseguições
políticas, a obra dirigida por Jafar Panahi e Kambozia Partovi se vale de uma
intrincada estrutura narrativa, em que suspense, metalinguagem e recursos
documentais geram uma obra desnorteante, em que os limites da realidade e a
fantasia nunca são precisos. Ao longo do filme, a atmosfera de tensão é
constante, apesar da presença física daqueles que oprimem as personagens em
cena nunca se configurar de forma plena. A produção evoca esse poder repressivo
castrador pela sugestão, usando sons, silêncios e gestos. Nesse sentido, a
encenação plena de angústia individual perante uma entidade opressora que se
apresenta como uma sombra ameaçadora cujos ataques e motivações são imprevisíveis
configura uma ambientação kafkaniana. Tais escolhas formais e temáticas
resultam numa obra carregada de pesada simbologia, por vezes até hermética, mas
que se revela coerente e natural com a presente situação política-religiosa do
Irã.
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