Por mais que se aventure por vários gêneros cinematográficos,
a lógica principal na filmografia do diretor Abel Ferrara é que tudo se adapte às
suas particulares concepções artísticas e existenciais. “4:44 – O fim do mundo”
(2011) obedece a tal preceito – molda-se na superfície como uma espécie de ficção-científica
apocalíptica, mas aos poucos sua narrativa rarefeita se converte numa incômoda
exposição das obsessões de Ferrara. Assim, sexo desesperado, vício em drogas,
desajuste família e vazio existencial preenchem pontualmente a trama. A encenação
proposta pelo cineasta é austera e criativa na forma que adapta os conceitos
inerentes ao gênero ficção científica de acordo com a contenção formal e a
economia de recursos da obra. Assim, Ferrara induz ao espectador que o fim do
mundo está chegado na elaboração de uma sombria atmosfera e nos diálogos metafóricos
de seus personagens, tornando o clima de desesperança mais palpável do que se
tivesse simplesmente apelado a assépticos efeitos visuais digitais. Ainda que não
tenha a contundência estética e o impacto sensorial de “Melancolia” (2011),
outro filme que versou sobre o final dos tempos sob uma perspectiva mais
contemplativa e ácida, o filme de Ferrara tem o seu encanto perverso na forma
sem concessões com que retrata os dilemas e hipocrisias da humanidade perante
um mundo em colapso.
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