segunda-feira, novembro 10, 2014

4:44 - O fim do mundo, de Abel Ferrara ***


Por mais que se aventure por vários gêneros cinematográficos, a lógica principal na filmografia do diretor Abel Ferrara é que tudo se adapte às suas particulares concepções artísticas e existenciais. “4:44 – O fim do mundo” (2011) obedece a tal preceito – molda-se na superfície como uma espécie de ficção-científica apocalíptica, mas aos poucos sua narrativa rarefeita se converte numa incômoda exposição das obsessões de Ferrara. Assim, sexo desesperado, vício em drogas, desajuste família e vazio existencial preenchem pontualmente a trama. A encenação proposta pelo cineasta é austera e criativa na forma que adapta os conceitos inerentes ao gênero ficção científica de acordo com a contenção formal e a economia de recursos da obra. Assim, Ferrara induz ao espectador que o fim do mundo está chegado na elaboração de uma sombria atmosfera e nos diálogos metafóricos de seus personagens, tornando o clima de desesperança mais palpável do que se tivesse simplesmente apelado a assépticos efeitos visuais digitais. Ainda que não tenha a contundência estética e o impacto sensorial de “Melancolia” (2011), outro filme que versou sobre o final dos tempos sob uma perspectiva mais contemplativa e ácida, o filme de Ferrara tem o seu encanto perverso na forma sem concessões com que retrata os dilemas e hipocrisias da humanidade perante um mundo em colapso.

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