terça-feira, novembro 18, 2014

Uma jovem tão bela como eu, de François Truffaut ****


Em uma rápida primeira impressão, “Uma jovem tão bela como eu” (1972) se mostra como uma excentricidade do diretor François Truffaut, tendo em vista a sua estrutura narrativa emular uma espécie de ligeira chanchada. Com o desenvolver da obra e um olhar mais atento, entretanto, o filme vai ganhando contornos cada vez mais surpreendentes. Algumas trucagens e detalhes visuais revelam uma estética baseada em influências cartunescas e mesmo de clássicas comédias físicas, fazendo da produção umas das viagens mais ousadas e radicais de Truffaut em termos de linguagem cinematográfica. O cineasta recria tais referências sob uma perspectiva própria, em que elementos cômicos e picarescos se entrelaçam de forma perturbadora com a atmosfera sombria e melancólica de algumas sequências. Em outros momentos, há nuances artísticas e temáticas que se conectam de forma contundente com o universo existencial do diretor – as peripécias transgressoras da protagonista Camille Bliss (Bernadette Lafont) guardam sintonia com as encrencas do Antoine Doinel, alter ego de Truffaut e personagem recorrente em sua filmografia. É nessa confluência de desconstrução de gêneros (comédia e suspense) e reforço de um traço autoral que “Uma jovem tão bela como eu” se configura como uma estranha pérola dentro do conjunto da obra de Truffaut.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Os filmes de Truffaut sempre foram bem a cara dele de boa praça, diferente do seu conterrâneo Godard, que ia sempre para um lado mais político e critico em seus filmes