Na superfície da premissa de sua trama, “Sob a pele” (2013)
aparenta se vincular a uma ficção científica genérica – a alienígena (Scarlett Johansson)
que se esconde sob uma bela aparência física que seduz incautos e depois os
aprisiona e mata. Mesmo na sua leitura simbólica, não há grandes novidades,
fazendo com que a trajetória existencial da protagonista sirva como uma espécie
de metáfora da “destruição sentimental”, em que o indivíduo que desconhece as
emoções humanas e que depois de expostas a ela acaba sucumbindo pela desordem
psíquica provocada por tal contato. O que diferencia de forma expressiva a
produção em questão é o idiossincrático tratamento formal concebido pelo
diretor Jonathan Glazer. Ao invés de tinturas épicas, o filme se desenvolve
como uma sóbria e melancólica narrativa, formatada em truques estéticos
eficientes em termos de encenação, fotografia e montagem, num clima de
estranheza que se acentua pela dissonante trilha sonora e pela abordagem
emocional distanciada. A própria figura Scarlett Johansson representa uma espécie
de síntese das ideias artísticas de Glazer: a composição dramática da atriz é
inexpressiva, mas de forte presença cênica, reforçando a atmosfera de esquisitice
e desesperança da obra.
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