segunda-feira, novembro 03, 2014

Sob a pele, de Jonathan Glazer ***1/2


Na superfície da premissa de sua trama, “Sob a pele” (2013) aparenta se vincular a uma ficção científica genérica – a alienígena (Scarlett Johansson) que se esconde sob uma bela aparência física que seduz incautos e depois os aprisiona e mata. Mesmo na sua leitura simbólica, não há grandes novidades, fazendo com que a trajetória existencial da protagonista sirva como uma espécie de metáfora da “destruição sentimental”, em que o indivíduo que desconhece as emoções humanas e que depois de expostas a ela acaba sucumbindo pela desordem psíquica provocada por tal contato. O que diferencia de forma expressiva a produção em questão é o idiossincrático tratamento formal concebido pelo diretor Jonathan Glazer. Ao invés de tinturas épicas, o filme se desenvolve como uma sóbria e melancólica narrativa, formatada em truques estéticos eficientes em termos de encenação, fotografia e montagem, num clima de estranheza que se acentua pela dissonante trilha sonora e pela abordagem emocional distanciada. A própria figura Scarlett Johansson representa uma espécie de síntese das ideias artísticas de Glazer: a composição dramática da atriz é inexpressiva, mas de forte presença cênica, reforçando a atmosfera de esquisitice e desesperança da obra.

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