A questão da loucura em “Boa sorte” (2014) não se limita à
sua temática. A própria construção da narrativa da produção em questão
apresenta uma espécie de esquizofrenia artística, como se houvesse dois filmes
dentro de um só. Se por um lado o roteiro da obra, de autoria de Jorge Furtado
baseado em conto próprio, apresenta aquela sua habitual verborragia, em que os
diálogos dos personagens pecam pelo excesso de informações e auto-explicações,
por outro a direção de Carolina Jabor busca algumas sutilezas formais por vezes
ousadas e até líricas. Em alguns momentos, a narrativa atinge um discreto tom
delirante, tanto em alguns planos-sequência e truques de edição que sugerem uma
ambientação entre o fantasioso e o onírico quanto em algumas belas estilizações,
principalmente na parte final, em que os desenhos da protagonista Judite
(Deborah Secco) ganham vida, rendendo algumas poéticas cenas. É claro que o
travo sentimental do roteiro incomoda, principalmente na forma clichê e um
tanto moralista com que se resolve o destino de Judite, mas as boas soluções
formais de Jabor fazem de “Boa sorte” uma obra memorável.
Um comentário:
Tentar ver nesse final de semana.
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