O cinema de Philippe Garrel parece obedecer a uma lógica
muito pessoal, quase como se desenvolvesse num universo paralelo. Em termos temáticos,
as tramas de seus filmes giram em torno de sentimentos e sensações marcados
pela crueza e intensidade a flor-da-pele, sem que, entretanto, sucumbam a
arroubos emocionais exagerados, sendo que tais obsessões textuais recebem um
tratamento formal sóbrio e repleto de delicadas nuances estéticas. “O ciúme”
(2013), obra mais recente de Garrel, se enquadra nesses habituais preceitos artísticos
do cineasta. As desventuras amorosas do protagonista Louis (Louis Garrel) são
narradas num estilo de ritmo fluido e rigor plástico notável (o detalhe da câmera
filmando a ação a partir de uma fechadura, por exemplo, é uma sacada visual
engenhosa e marcante). Philippe Garrel estrutura o filme como se fosse um conto
moral pleno de pungência e ironia, mas sem cair em maniqueísmos ou obviedades. A
serena edição de poucos cortes, o roteiro em que os fatos se sucedem como
flashes de pensamento, a direção de fotografia em esmaecido preto e branco e de
enquadramentos expressivos, os discretos e pontuais temas musicais de tons
melancólicos e o elenco de composições dramáticas de sensível naturalismo compõem
uma produção de atmosfera rarefeita e atemporal e que se encerra quase como uma
lembrança fugidia.
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