A objetividade e o distanciamento emocional cada vez mais de
forma deliberada se distanciam da formatação dos documentários contemporâneos.
Estão se tornado bastante recorrentes obras dentro de tal gênero que se deixam
permear por um caráter intimista de seus realizadores, em que suas impressões e
dilemas pessoais se impõem como matéria prima na exposição de suas temáticas. “Avós”
é um exemplar interessante de tal vertente do “cinema verdade”. Essa produção
chilena-equatoriana combina na mesma moeda política e intimismo com razoável
fluência orgânica. A diretora Carla Valencia D’Ávila conta duas histórias – a de
seu avô paterno chileno, preso e morto no início da ditadura militar
orquestrada por Pinochet, e a de seu avô materno, farmacêutico que se curou de
um tumor maligno com medicamentos elaborados por ele mesmo e que depois acabou
se tornando um misto de curandeiro e médico, tendo sucesso no tratamento de
diversos pacientes. A cineasta não apresenta grandes arroubos criativos em
termos formais – a narrativa de “Avós” é pausada e clássica, por vezes até árida
dentro da contida estética da diretora. De qualquer forma, Ávila, ao expor as
vidas singulares de seus biografados, constrói uma obra que no seu subtexto
acaba oferecendo um estranho e sedutor panorama da história existencial de um
período crítico da América do Sul, em que repressão política, misticismo e
idealismo libertário conviviam de maneira não muito harmônica no continente.
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