A participação de Gullermo Del Toro na produção de “Festa no
céu” (2014) não é gratuita – a animação dirigida por Jorge R. Gutierrez é uma
bizarrice bem divertida e que faz lembrar alguns dos melhores e mais idiossincráticos
filmes de Del Toro como “Cronos” (1993) e “O labirinto do fauno” (2006). O
grafismo da obra é de uma beleza por vezes exuberante na sua combinação de estilização
berrante e toques sombrios, em que os elementos tradicionais da festa dos
mortos da cultura mexicana são incorporados na particular estética do filme com
notável fluidez. Essa abordagem estética em que bom humor e morbidez se fundem
com naturalidade se expande também para a trama – a estrutura tradicional de
uma história infantil de tom fabular é mantida, mas permeada com um certo senso
de humor perverso e uma visão bastante crítica da sociedade patriarcal machista
inerente da sociedade mexicana (e também do próprio mundo ocidental de matiz
cristã católica). A própria natureza maniqueísta na diferenciação entre heróis
e vilões vai se tornando difusa com o desenrolar do roteiro, o que torna “Festa
no céu” uma obra em forte sintonia com os tempos atuais.
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