segunda-feira, janeiro 12, 2015

Acima das nuvens, de Olivier Assayas ***1/2


Quando Stanley Kubrick chamou Tom Cruise para protagonizar “De olhos bem fechados” (1999), o estranhamento foi grande para boa parte de público e crítica. Afinal, o que um dos maiores mestres da história do cinema queria com um mero galã no papel principal de sua produção? A grande sacada do genial cineasta, entretanto, estava na utilização da persona de grande astro de Cruise como material dramático na composição da narrativa e atmosfera de seu filme. De certa forma, o diretor francês Olivier Assayas usa um expediente semelhante em “Acima das nuvens” (2014) – tanto a personagem da consagrada Juliette Binoche quanto a da jovem estrela em ascensão Chloë Grace Moretz parecem reflexos das atrizes que as interpretam, havendo uma contundente relação de contraponto entre elas. Como mediadora, surge a figura de Valentine (Kristen Stewart), que serve como uma espécie de consciência do filme. A atuação de Stewart é surpreendente dada a complexidade e crueza que o papel exige – num registro desglamorizado e contido, numa condição de observadora, ela apresenta uma visão lúcida dos dilemas e conflitos que permeiam a trama de “Acima das nuvens”. Assayas também adota uma abordagem estética insólita, mas que está em perfeita sintonia com a essência de sua temática, um ácido questionamento sobre a natureza daquilo que é considerado “arte” ou não. Nesse sentido, a estrutura narrativa evoca uma espécie de pastiche daqueles dramas existenciais europeus – as seqüências naquela casa de campo encravada no interior montanhoso da Suíça parecem um decalque de alguns momentos marcantes de produções dirigidas por Ingmar Bergman. Mais que mera reciclagem, tal formalismo tem um caráter irônico na sua intenção iconoclasta de questionamento de ortodoxias e preconceitos artísticos.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Um dos melhores do inicio desse ano