Quando Stanley Kubrick chamou Tom Cruise para protagonizar “De
olhos bem fechados” (1999), o estranhamento foi grande para boa parte de público
e crítica. Afinal, o que um dos maiores mestres da história do cinema queria
com um mero galã no papel principal de sua produção? A grande sacada do genial
cineasta, entretanto, estava na utilização da persona de grande astro de Cruise
como material dramático na composição da narrativa e atmosfera de seu filme. De
certa forma, o diretor francês Olivier Assayas usa um expediente semelhante em “Acima
das nuvens” (2014) – tanto a personagem da consagrada Juliette Binoche quanto a
da jovem estrela em ascensão Chloë Grace Moretz parecem reflexos das atrizes
que as interpretam, havendo uma contundente relação de contraponto entre elas.
Como mediadora, surge a figura de Valentine (Kristen Stewart), que serve como
uma espécie de consciência do filme. A atuação de Stewart é surpreendente dada
a complexidade e crueza que o papel exige – num registro desglamorizado e
contido, numa condição de observadora, ela apresenta uma visão lúcida dos
dilemas e conflitos que permeiam a trama de “Acima das nuvens”. Assayas também
adota uma abordagem estética insólita, mas que está em perfeita sintonia com a
essência de sua temática, um ácido questionamento sobre a natureza daquilo que é
considerado “arte” ou não. Nesse sentido, a estrutura narrativa evoca uma espécie
de pastiche daqueles dramas existenciais europeus – as seqüências naquela casa
de campo encravada no interior montanhoso da Suíça parecem um decalque de
alguns momentos marcantes de produções dirigidas por Ingmar Bergman. Mais que
mera reciclagem, tal formalismo tem um caráter irônico na sua intenção
iconoclasta de questionamento de ortodoxias e preconceitos artísticos.
Um comentário:
Um dos melhores do inicio desse ano
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