segunda-feira, janeiro 19, 2015

As duas faces de janeiro, de Hossein Amini ***


Os livros da escritora Patricia Highsmith costumam ser adaptados para o cinema com relativa freqüência. Dentre tais versões cinematográficas, destaque absoluto para as obras-primas “O sol por testemunha” (1960) e “O amigo americano” (1977). “As duas faces de janeiro” (2014) está bem longe do padrão de qualidade artística dos clássicos mencionados anteriormente, mas mesmo assim é uma obra que se mostra em sintonia existencial com a essência de Highsmith. Isso ocorre porque o diretor Hossein Amini consegue preservar com fidelidade considerável aquela característica atmosfera de ambiguidade moral que permeia o universo da escritora. Além disso, algumas boas sacadas da trama são bem exploradas no desenvolvimento do roteiro– o fato da história se desenrolar na Grécia não é gratuito, tendo em vista a narrativa ter uma dinâmica que alude a uma espécie de conto moral típico das tragédias gregas. A relação dúbia de competição e admiração entre os escroques Chester (Viggo Mortensen) e Rydal (Oscar Isaac) guarda uma simbologia óbvia, mas de resultados de tensão dramática até bem eficientes. No mais, o registro visual dos belos cenários de ruínas e cidades históricas da Grécia não guardam apenas um caráter de “cartão postal”, adquirindo uma função narrativa importante ao caracterizar uma ambiência de mistério e decadência que torna o clima de suspense mais sufocante para os personagens.