O envolvimento de Clint Eastwood com música não é de hoje.
Pianista e grande fã de jazz, ele já havia dirigido algumas obras expressivas relacionados
a tal temática, como a cinebiografia “Bird” (1988) e o documentário “Piano
Blues” (2003). De certa forma, “Jersey Boys – Em busca da música” (2014) pode
parecer uma natural extensão desse apreço. Ainda sim, há alguns elementos que
evidenciam a capacidade do veterano cineasta de ainda surpreender. O primeiro
deles seria de que Eastwood sempre foi um tradicionalista na sua devoção pelo
cancioneiro dos Estados Unidos – suas preferências declaradas são o jazz e o
blues, além de nutrir uma antipatia em relação ao rock e ao pop. Só que em “Jersey
Boys” o foco está justamente na trajetória de Frankie Valli & The Four
Seasons, uma banda dos anos 60 cuja música era uma mescla de soul, rhythm and
blues e rock and roll. Também foge do habitual do diretor o formato escolhido para
contar a sua história: um misto de drama real, musical e filme de gângster,
adaptando uma peça da Broadway sobre o grupo biografado. Apesar dessas
atipicidades, prevalece a habitual classe de Eastwood para filmar, com ele
sabendo conciliar com maestria tanto uma encenação de tons realistas com
momentos de estilização narrativa, metalinguagem e números musicais. O
resultado é uma obra de vigor narrativo esfuziante, capaz de fazer um retrato
apaixonado e esclarecedor sobre os bastidores de criação e gravação de algumas das
mais belas canções da música popular do século XX. O filme peca apenas em
algumas cenas domésticas banais que revolvem clichês manjados sobre o dilema “sucesso
artístico versus infelicidade familiar”. No mais, pode até parecer forçado
fazer uma comparação, mas acaba sendo irresistível: enquanto “Tim Maia” (2013) é
uma produção que diminui a importância artística de seu biografado e o
transforma num junkie mala que de vez cantava ou compunha, “Jersey Boys” é uma
obra que dá uma baita fissura em sair correndo para escutar as pérolas musicais
de Frankie Valli & The Four Seasons.
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