segunda-feira, janeiro 05, 2015

Ventos de agosto, de Gabriel Mascaro ***


Em “Ventos de agosto” (2014), seu primeiro longa-metragem de ficção, o diretor Gabriel Mascaro conserva algumas influências do gênero onde se projetou inicialmente, o documentário. Isso porque sua abordagem traz uma certa secura na encenação, um naturalismo na forma com que filma situações e personagens. É curioso, entretanto, que em tal concepção cinematográfica há espaço para uma espécie de poético realismo mágico. Sem recorrer a trucagens e se valendo de um registro visual repleto de nuances imagéticas nos seus sutis movimentos de câmeras e enquadramentos de caráter pictórico e de uma narrativa rarefeita, a obra de Mascaro parece se desenvolver num tom entre o aleatório e o casual. Seus personagens se relacionam por tênues ligações ou simplesmente não se cruzam. Aos poucos, entretanto, a narrativa vai adquirindo uma estranha coerência estética e temática, em que os cenários e indivíduos que aparecem na tela dão a impressão de estarem situados em um universo paralelo. A jovem catadora de cocos que adora punk rock, seu amante obcecado por um cadáver sem identificação, o “caçador” de ventos, uma senhora de aparência centenária que ter uma aura de fóssil vivo, todos eles compõem uma fauna bizarra, que tanto dá a ideia de proximidade quanto parece se situar num mundo fora do tempo e do espaço.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Assisti esses tempos na Casa de cultura Mario quintana. Vale muito a pena.