sexta-feira, janeiro 30, 2015

A vida durante a guerra, de Todd Solondz


Durante alguns anos, o diretor Todd Solodndz foi uma espécie de cronista da podridão da classe média norte-americana. Filmes como “Bem vindo à casa de boneca” (1995), “Felicidade” (1997) e “Histórias proibidas” (2001) destilavam raiva e ironia ácida em relação às hipocrisias e idiossincrasias morais da sociedade ocidental. Além da temática, podia-se perceber em tais filmes um homogêneo padrão estético e narrativo – apesar de revolver os recônditos obscuros do comportamento humano e de eventuais quedas para o escatológico, Solondz contrastava com direção de fotografia luminosa, direção de arte asséptica e uma edição clássica e sem enfeites. O resultado final conseguia simultaneamente ser envolvente e perturbador. “A vida durante a guerra” (2009), espécie de continuação de “Felicidade”, retoma os traços característicos do estilo de Solondz, mas sem o mesmo impacto sensorial de antes. Talvez porque a atmosfera do filme tenha um viés mais melancólico. É claro que aquela propensão para a sátira e o choque pontua com freqüência a trama, mas o roteiro também se permite alguns momentos de amarga serenidade, em que dá para ser perceber até uma postura de mais compaixão para os seus personagens. Assim, “A vida durante a guerra” acaba marcando uma espécie de discreto amadurecimento para a amarga visão de mundo que permeava “Felicidade”.

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