Durante alguns anos, o diretor Todd Solodndz foi uma espécie
de cronista da podridão da classe média norte-americana. Filmes como “Bem vindo
à casa de boneca” (1995), “Felicidade” (1997) e “Histórias proibidas” (2001) destilavam
raiva e ironia ácida em relação às hipocrisias e idiossincrasias morais da
sociedade ocidental. Além da temática, podia-se perceber em tais filmes um homogêneo
padrão estético e narrativo – apesar de revolver os recônditos obscuros do
comportamento humano e de eventuais quedas para o escatológico, Solondz
contrastava com direção de fotografia luminosa, direção de arte asséptica e uma
edição clássica e sem enfeites. O resultado final conseguia simultaneamente ser
envolvente e perturbador. “A vida durante a guerra” (2009), espécie de
continuação de “Felicidade”, retoma os traços característicos do estilo de
Solondz, mas sem o mesmo impacto sensorial de antes. Talvez porque a atmosfera
do filme tenha um viés mais melancólico. É claro que aquela propensão para a sátira
e o choque pontua com freqüência a trama, mas o roteiro também se permite
alguns momentos de amarga serenidade, em que dá para ser perceber até uma
postura de mais compaixão para os seus personagens. Assim, “A vida durante a
guerra” acaba marcando uma espécie de discreto amadurecimento para a amarga visão
de mundo que permeava “Felicidade”.
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