Não há como não fazer um paralelo entre a produção
brasileira “Depois da chuva” (2013) com o francês “Depois de maio” (2012) de
Olivier Assayas. Enquanto este último traçava um panorama poético e melancólico
das desilusões ideológicas pós-maio de 1969, a obra assinada pelos cineastas Cláudio
Marques e Marília Hughes enfoca o misto de euforia e ressaca existencial que
pontuou os momentos finais da ditadura militar no Brasil e o princípio da Nova
República. É claro que os jovens diretores brasileiro não apresentam a mesma
classe artística de Assayas, mas mesmo assim conseguem realizar um filme
bastante consistente na forma com que a narrativa transita entre o político e o
intimista. A necessidade de contextualizar historicamente a trama por vezes faz
com que a trama tenha um incômodo didático e até mesmo ingênuo. Mesmo algumas
soluções do roteiro enveredam por estruturas e lógicas um tanto simplistas. Tais
equívocos, entretanto, são compensados por um expressivo senso estético e pela
criação de atmosferas perturbadoras. A direção de fotografia apresenta composições
cênicas notáveis no seu detalhismo visual, enquanto a sobriedade da montagem
cria coerente conexão formal com o tom niilista de algumas passagens. Vale
ainda destacar que alguns elementos da caracterização históricas que fogem das
obviedades, como a trilha sonora repleta de temas punk ou garageiros e os
sombrios cenários de casas abandonadas e ruínas de fábrica em sintonia com o
espírito pós-punk da primeira metade da década de 80.
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