Relacionar uma temática sobre bastidores de Hollywood com
uma formatação de filme de horror não é propriamente uma novidade. Basta lembra
do clássico “O crepúsculo dos deuses” (1950) de Billy Wilder. O que há de novo
em “Mapas para as estrelas” (2014) é que essa equação recebe as concepções artísticas
bizarras e geniais de David Cronenberg. Permanece no filme de forma constante
uma atmosfera sombria e doentia, que faz com que a narrativa tenha um caráter
de conto gótico e mesmo a elegante direção de fotografia de tons luminosos não
consegue esconder esse viés. O espectro da mãe que atormenta a neurótica filha
atriz (aparecendo até no meio de uma menage a trois) e a família que é marcada
por relações incestuosas são elemento que remetem a esse caráter mais perverso
da escola de ultraromantismo. Cronenberg, entretanto, usa tais influências num
contexto irônico e perverso, como se quisesse ressaltar que o universo paralelo
de vaidades, sexo e drogas dos astros do cinema e daqueles que o cercam
obedecesse a regras de conduta caóticas e amorais, em que almas penadas
convivem com os vivos e os atormentam sem a menor cerimônia. Esse mórbido jogo
de simbolismo entre pecado e culpa pode ser recorrente nos meios de expressão
cultural, mas com Cronenberg ganha uma dimensão extraordinária no seu misto de
horror e humor negro. A impressão permanente de um ambiente em colapso
existencial encontra um tratamento formal meticuloso por parte do cineasta
canadense – ele mantém em boa parte da produção a tensão psicológica e a sensação
de estranhamento no limite, e quando a violência gráfica irrompe é de forma
impactante na sua profusão de brutalidade e sangue. Esse extraordinário senso
cinematográfico de Cronenberg consegue também se manifestar na direção de
atores, com destaque para as notáveis composições dramáticas de Julianne Moore e
Mia Wasikowska.
Um comentário:
Moore deveria ter sido indicada por esse filme também.
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