Os fatos de ser a obra que é considerada o marco fundamental
da linguagem moderna cinematográfica e de trazer como heróis os membros da
organização racista Ku Klux Klan poderiam reduzir “O nascimento de uma nação”
(2015) a uma mera (mas importante) curiosidade histórica. Ver o filme em questão,
entretanto, na tela grande um cinema é uma experiência visceral que transcende
fins puramente didáticos. Algumas técnicas rudimentares e limitações tecnológicas,
na comparação com os recursos materiais de hoje, podem causar um certo
estranhamento e a sensação de algo anacrônico. Ainda sim, a dinâmica narrativa
impressa pelo cineasta D.W. Griffith é muito envolvente, aliada a um grande
senso estético na concepção visual de sua obra. Mesmo que baseado quase que
exclusivamente em planos fixos, há um encanto imagético que impressiona pelo
esmero nas composições pictóricas de enquadramentos e nas eficientes trucagens
envolvendo sobreposições e fusões. As extraordinárias soluções estéticas de
Griffith causam um efeito perturbador para o espectador – a conjunção entre ação
e tensão por vezes induz a uma empatia aos “heróis” da trama. Por mais que os
conceitos sociais evocados pelo roteiro possam ser questionáveis, é de se
convir também que representam os valores de uma época. Nesse sentido, “O
nascimento de uma nação” não deixa de oferecer um interessante panorama histórico
da formação cultural de um povo, cujas consequências até os dias de hoje
encontram ressonância na sociedade ocidental.
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