segunda-feira, março 16, 2015

Para sempre Alice, de Richard Glatzer e Wash Westmoreland *


É provável que uma obra como “Para sempre Alice” (2014) tenha uma espécie de função social importante que transcenda os seus méritos artísticos. Afinal, dentro do gênero ao qual pertence, o “filme doença”, a produção dirigida por Richard Glatzer e Wash Westmoreland acaba sendo bem didática sobre a questão do Mal de Alzheimer, enfocando com detalhes tanto a fase do diagnóstico como o doloroso processo de desenvolvimento dos sintomas da doença. Como obra cinematográfica, entretanto, está bem longe de ser considerada uma experiência satisfatória. Há uma indecisão estética constante permeando a narrativa – os fatos se sucedem sem o devido peso dramático, apesar do filme abusar de forma constante de uma considerável de truques emocionais apelativos como música incidental melosa nos momentos mais “tocantes”, personagens olhando para o horizonte sugerindo alguma introspecção e diálogos edificantes estilo autoajuda (com direito, inclusive, a um discurso proferido pela protagonista Alice para uma plateia de familiares, médicos e outros pessoas afetadas pela doença). Toda essa concepção formal equivocada faz com que “Para sem Alice” mais pareça um vídeo institucional sobre o Alzheimer que conta com um estrelado elenco de Hollywood do que uma produção cinematográfica propriamente dita. E para aqueles que acham que seria impossível tratar de tal temática sem cair nesse estilo melodrama barato, recomenda-se o devastador “Amor” (2012), de Michael Haneke, extraordinária visão metafórica do diretor austríaco Michael Haneke de uma doença degenerativa como a própria desintegração da moral e da civilidade da sociedade ocidental.

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