O que me motivou a ver “Um gosto de mel” (1961) foi a
leitura de uma biografia sobre a banda britânica The Smiths. O filme em questão
é citado mais de uma vez como forte referência cultural para as letras da
banda. Só que essa produção inglesa acaba transcendendo a mera curiosidade
histórica. O tratamento artístico dado pelo diretor Tony Richardson revela
singularidades que mesmo nos dias de hoje soam bastante ousadas. A narrativa se
estrutura a partir de uma fusão de elementos documentais e de melodrama, tendo
uma fluência extraordinária nessa insólita combinação. Num primeiro momento, há
a impressão de uma certa aridez estética na forma naturalista com que os
personagens e os cenários desolados de Manchester são retratados. Aos poucos,
entretanto, tal percepção se revela engenhosamente enganadora, sendo que a
encenação e a dinâmica formal apresentam concepções bem criativas e
libertárias. Os personagens desenvolvem um carisma magnético na forma com que
lidam com seus dilemas e contradições, além das situações da trama causarem
expressiva empatia pela forma crua e humana com que são expostas. Richardson
consegue um raro equilíbrio entre o sentimentalismo, a melancolia e o amargo
realismo.
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