Em “Deixe a luz acesa” (2012), o diretor Ira Sachs focava
sua narrativa em um conturbado relacionamento gay marcado por sexo, drogas,
traições e várias separações e reconciliações, com uma abordagem formal
bastante crua. Na comparação, e numa primeira impressão, “O amor é estranho” (2014)
pode soar mais agridoce na forma do registro sereno que Sachs usa como referência
ao tornar a ter um casal homossexual como protagonista da trama. Nessa produção
mais recente, esses personagens principais, mais velhos, evidenciam uma
maturidade emocional e mesmo um momento de vida de maior estabilidade. O ponto
de conflito do roteiro está justamente no universo que circunda o casal. Quando
a necessidade de que por uma questão econômica e logística faz com que os dois
precisem se separar de forma temporária e tenham de morar com parentes e amigos
ficam expostos de forma sutil e engenhosa os preconceitos morais e desconfortos
sociais daqueles que pareciam tão receptivos ao seu relacionamento. Sachs evita
estardalhaços emocionais e arroubos de sofisticação afetada – a narrativa se
desenvolve com uma fluência notável, com personagens e situações ganhando uma
caracterização aprofundada e sem apelações para caricaturas e estereótipos
(nesse sentido, colaboram muitos as atuações repletas de nuances dramáticas de
John Lithgow e Alfred Molina nos papéis do casal protagonista). A fotografia de
tom crepuscular e a atmosfera melancólica e sóbria configuram “O amor é
estranho” como um conto moral cortante na fina acidez com que ironiza as
mesquinharias das relações humanas.
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