terça-feira, março 31, 2015

Dívida de honra, de Tommy Lee Jones ***1/2


Os belos e grandes planos retratando campos e planícies que abrem “Dívida de honra” (2014) até podem sugerir uma certa atmosfera nostálgica e de exaltação do gênero faroeste. Essa notável composição plástica da direção de fotografia do trabalho mais recente de Tommy Lee Jones como cineasta é enganadora de forma perversa, conforme se perceber pelas intenções temáticas do cineasta com o desenrolar da narrativa. Qualquer pretensa visão de idealização cai por terra quando se evidencia um olhar cruel e sem concessões sobre a atmosfera de opressão moral e da dureza das condições geográficas do oeste norte-americano do século XIX. Jones foca a sua trama num grupo de mulheres que se desintegram mentalmente diante de um ambiente marcado pelo obscurantismo religioso, a rudeza comportamental de uma sociedade machista e mesmo o fator climático inóspito. A obra não oferece redenção para os seus personagens – o oeste que Jones recria é um lugar onde os fracos e sensíveis não tem vez. Para esses, resta apenas a loucura e a morte. Apesar do tom deprimente de tal abordagem, o diretor se permite construir uma obra repleta de sutil ironia e de humanismo cortante. Ele já havia realizado uma bela atualização dos preceitos clássicos do faroeste ao os adaptar para a época atual no extraordinário “Três enterros” (2005), sendo que em “Dívida de honra” ele oferece uma perspectiva renovada e contemporânea para um gênero que já era considerado anacrônico. Recusando usar alguns clichês básicos do estilo, como duelos ou uma estética grandiosa, Jones acabou realizando um filme impactante e atemporal no modo lúcido e impiedoso com que disseca os valores de uma época.

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