Os belos e grandes planos retratando campos e planícies que
abrem “Dívida de honra” (2014) até podem sugerir uma certa atmosfera nostálgica
e de exaltação do gênero faroeste. Essa notável composição plástica da direção
de fotografia do trabalho mais recente de Tommy Lee Jones como cineasta é
enganadora de forma perversa, conforme se perceber pelas intenções temáticas do
cineasta com o desenrolar da narrativa. Qualquer pretensa visão de idealização
cai por terra quando se evidencia um olhar cruel e sem concessões sobre a
atmosfera de opressão moral e da dureza das condições geográficas do oeste
norte-americano do século XIX. Jones foca a sua trama num grupo de mulheres que
se desintegram mentalmente diante de um ambiente marcado pelo obscurantismo
religioso, a rudeza comportamental de uma sociedade machista e mesmo o fator
climático inóspito. A obra não oferece redenção para os seus personagens – o oeste
que Jones recria é um lugar onde os fracos e sensíveis não tem vez. Para esses,
resta apenas a loucura e a morte. Apesar do tom deprimente de tal abordagem, o
diretor se permite construir uma obra repleta de sutil ironia e de humanismo
cortante. Ele já havia realizado uma bela atualização dos preceitos clássicos
do faroeste ao os adaptar para a época atual no extraordinário “Três enterros”
(2005), sendo que em “Dívida de honra” ele oferece uma perspectiva renovada e
contemporânea para um gênero que já era considerado anacrônico. Recusando usar
alguns clichês básicos do estilo, como duelos ou uma estética grandiosa, Jones
acabou realizando um filme impactante e atemporal no modo lúcido e impiedoso
com que disseca os valores de uma época.
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