Pela perspectiva da temática, a produção norueguesa “Happy,
happy” (2010) guarda forte relação com boa parte da cinematografia nórdica,
principalmente quando se pensa em Ingmar Bergman. O roteiro disseca as relações
intimistas entre duas famílias de origens culturais diversas que acabam tendo
uma convivência mais próxima pelo fato de serem vizinhas. A partir dessa
premissa de trama, a diretora Anne Sewitsky aborda assuntos complexos como
adultério, homossexualidade, insatisfação sexual, conflitos familiares e
racismo. Por vezes, o desenrolar da história até evoca um certo caos emocional
no momento em que os matrimônios se desestabilizam quando os desejos dos
personagens começam a aflorar com mais intensidade. Nesse sentido, o filme até
vislumbra um caráter de contestação dos valores morais vigentes da sociedade
ocidental. Sewitsky adota uma narrativa formatada dentro do gênero comédia dramática,
o que acaba conferindo à obra alguma leveza irônica. O que quebra a
possibilidade de um maior impacto sensorial e existencial para “Happy, happy” é
que a produção não leva para níveis mais avançados as suas inquietações artísticas.
A sensação de desordem sentimental se dissipa com a necessidade da trama se
acondicionar a soluções conciliadoras e um tanto conservadoras. É como se o
filme ficasse com medo das consequências morais de sua trama e redirecionasse
tudo para uma conclusão careta, em que a unidade familiar deve ser preservada a
qualquer custo. Nesse sentido, a comparação inicial que fez nesse texto com
Bergman acaba soando covarde. O diretor sueco, afinal, nunca foi de se melindrar
em diatribes contra a hipocrisia das relações humanas.
Um comentário:
BOA PEDIDA
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