terça-feira, julho 14, 2015

O crítico, de Hernán Guerschuny **


A trama da produção argentina  “O crítico” (2013) obedece a uma equação insólita – mostrar os dilemas e contradições na vida do crítico cinematográfico Víctor Tellez (Rafael Spregelburd) dentro de uma narrativa que se formata como uma comédia romântica, justamente o gênero que o protagonista menos aprecia. Em um filme cuja temática envolve o próprio universo do cinema, é quase óbvio que referências e citações a outras produções serão recorrentes. Nesse quesito, a obra do diretor Hernán Guerschuny tem alguns achados narrativos e estéticos bem interessantes. Como a história é vista pelo olhar do personagem principal, há momentos em que imagens e sons evocam alguns clássicos do cinema, principalmente relacionados ao movimento da Nouvelle Vague (os pensamentos de Tellez são em francês, por vezes as imagens são em preto-e-branco, trilha sonora que evoca um jazz atemporal). Esses truques, entretanto, acabam sendo insuficientes para dar um estofo artístico satisfatório para o filme. Ao mostrar o cotidiano profissional de Tellez, a narrativa se revela esquemática e superficial, obedecendo a uma lógica simplista – o rigor do personagem com obras “água com açúcar” seria um reflexo do seu endurecimento emocional, de uma falta de sensibilidade com as coisas simples da vida. Mesmo quando a bela Sofía (Dolores Fonzi) entra em cena, é por uma questão formulaica, pois ela será o vetor de abrandamento da personalidade dura de Tellez. Nesse instante, a proposta existencial de “O crítico” fica ainda mais confusa: é uma obra que converte em um sacana pastiche de comédia romântica? Ou é uma homenagem ao gênero, resgatando os seus preceitos básicos? Essa indefinição de rumo retira o impacto da produção, pois ela não consegue cativar o espectador pelo seu grau emocional e nem por um possível caráter de ironia. Isso sem falar que levanta uma dúvida que chega as raias do absurdo: quer dizer que alguns dos melhores trabalhos da Nouvelle Vague, por exemplo, têm as suas reais importâncias condicionadas ao humor de críticos?

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

infelizmente é um filme que poderia ser maior do que ele é.