Aqueles acostumados com os convencionalismos melodramáticos
habituais do cinema argentino contemporâneo irão levar um susto com “Jauja”
(2014). A produção dirigida por Lisandro Alonso trafega por caminhos mais
nebulosos e surpreendentes. O que se tem em tal obra é um híbrido das
narrativas metafísicas de Tarkovsky e Sokurov, do retrato impiedoso de uma
natureza selvagem e inóspita típico de boa parte dos trabalhos de Herzog e a
atmosfera surreal delirante de David Lynch. Apesar dessa confluência de referências,
o resultado final é bastante original e inquietante. A premissa inicial de
trama e mesmo a concepção estética nas primeiras cenas sugerem um viés
realista, até mesmo de certa aridez emocional e formal. Com o desenrolar da
narrativa, entretanto, o filme vai ganhando uma dimensão mais ampla. À medida
que o protagonista Gunnar (Viggo Mortensen) se embrenha cada vez mais no
interior da Patagônia em busca da filha que fugiu com o amante, a lógica do roteiro
parece ir se fragmentando de forma inexorável. Talvez até poderia se dizer que a
viagem “física” de Gunnar serviria como metáfora de uma espécie de jornada de autodescoberta
existencial. Todavia, a verdade é que esse simbolismo se extrapola em outras direções.
“Jauja” se configura em um sensorialismo exasperado e delirante, em que as próprias
noções de espaço e tempo se estilhaçam - naturalismo, dimensões oníricas e
viagens intertemporais convivem de forma atribulada no mesmo universo.
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