segunda-feira, dezembro 14, 2009

THE LOW ROAD - Beasts of Bourbon


A Austrália é um país muito peculiar no que diz respeito ao rock que se faz por lá (e é claro que eu não me refiro a bandas babas do tipo INSX, Australian Crawl ou Men At Work). A impressão que se tem é que o gênero foi remodelado por lá, adaptando-se àqueles áridos desertos e sinistras paisagens. O Beasts of Bourbon é uma mais do que exemplar amostra das sonoridades ultra particulares australianas. Sua música é uma mescla indissociável de blues, punk e do mais áspero hard rock (fanzocas do Bon Jovi não se animem: definitivamente, essa não é a praia de vocês...). O produto final é uma música sombria, entorpecida e desesperada, mostrando que, às vezes, a essência do rock não está exatamente na velocidade ou peso com que é tocado, mas sim na atmosfera torturada que o envolve.

The Low Road (1991) é um manifesto perfeito do som do Beasts of Bourbon. O disco começa já começa pegando fogo, com a potente Chase The Dragon e seus riffs cortantes. Já The Low Road e Just Right são temas rasgados por dolorosos acordes bluesy, daqueles que fazem a gente imaginar botecos escuros e esfumaçados cheios de mal-encarados e perdedores em geral bebendo cerveja ordinária. Can’t Say No é uma balada dilacerante, em que a voz do Tex Perkins é um lamento desesperançado e quase bêbado sublinhando a melancólica melodia da canção. Lá no meio do disco, mais precisamente na sexta faixa, a banda apresenta uma surpresa sensacional: uma revisão bem peculiar de Ride On¸ clássica canção do AC/DC, em que transformam o que antes era um blues manhoso num estridente tema rock. Mas em termos de versões, o disco também apresenta um achado ainda mais desconcertante, que é a visitação sobre uma das mais emblemáticas e malditas músicas da história do rock: Cocksucker Blues, canção proibida e nunca gravada oficialmente pelos seus autores (uns carinhas chamados Mick Jagger e Keith Richards), que nas mãos do Beasts of Bourbon recebe o tratamento que lhe é direito, com os mesmos dando para a canção um andamento arrastado e cheio de sensibilidade junkie. Para fechar de forma devidamente “down” uma obra marcada pela amargura, nada melhor que Goodbye Friends, uma elegia de tons embriagados.

Essencial na arquitetura sônica de Low Road é a produção sem enfeites de Tony Cohen, que ressalta com precisão os timbres secos e crus dos instrumentos, o que acaba valorizando ainda o clima lúgubre das canções do disco. Cohen foi produtor de alguns dos melhores álbuns do Birthday Party e dos Bad Seeds. E por falar nesses últimos, Tex Perkins e Spencer Jones, baixista do Beasts of Bourbon, são eventuais colaboradores das “más sementes”.

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