segunda-feira, dezembro 14, 2009

Um Homem de Moral, de Ricardo Dias ***1/2


O cineasta Ricardo Dias não procurou dar uma comportada ordem cronológica para focalizar a vida e obra de Paulo Vanzolini em “Um Homem de Moral” (2009), preferindo dissipar sua narrativa em várias frentes: imagens de Vanzolini em ação como biólogo respeitado, as gravações do projeto/tributo “Acerto de Contas” (em que vários artistas gravaram praticamente todo o repertório de composições do homenageado) e depoimentos de músicos, amigos e do próprio Vanzolini. Essa opção de Dias está em perfeita sintonia com o espírito errático do compositor e sua canções. A música, geralmente, não foi o principal mote da vida de Vanzolini, mesmo que ele tenha composto alguns clássicos do cancioneiro brasileiro (“Ronda”, “Volta Por Cima”). Os depoimentos dele sobre a sua música são de tom casual e anedótico, como se ele encarasse isso quase como uma brincadeira. Esse aparente descaso com a própria arte, entretanto, não coaduna com a beleza serena da música que brota das telas e nem com as palavras de admiração de vários dos demais depoentes. São justamente nesses contrastes que reside o encanto de “Um Homem de Moral”. E ainda falando no aspecto dos depoimentos, Dias colheu as declarações de Vanzolini em épocas diferentes. Assim, em algumas cenas vemos o compositor em trajes sóbrios e bem arrumado, enquanto em outros momentos ele está um pouco desgrenhado, com a barba por fazer, roupas amarrotadas. Em um primeiro momento, pode-se pensar em uma divisão de personalidades na mesma pessoa, sugerindo-se uma dualidade. A verdade, todavia, é que o teor sarcástico e mal humorado das frases de Vanzolini predomina em todas as entrevistas com eles. Assim, o que poderia sugerir uma espécie de caracterização “O Médico e o Monstro”, na realidade revela um homem em permanente estado “Mr. Hyde” na sua misantropia.

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