quarta-feira, dezembro 02, 2009

Se Nada Mais Der Certo, de José Eduardo Belmonte ***1/2


Em tempos que obras de temática voltada para o próprio umbigo são cultuadas como o máximo em termos de modernidade cinematográfica, o cineasta José Eduardo Belmonte nada contra a corrente e apresenta um filme bastante ambicioso nas suas pretensões artísticas. “Se Nada Mais Der Certo” (2008) foca uma realidade que se desestrutura progressivamente. A produção parte de uma premissa intimista, mostrando a rotina pessoal de um fracassado jornalista (Cauã Reymond). Com o desenrolar da trama, entretanto, a película adquire uma conotação mais complexa no sentido que relaciona o lado pessoal dos seus personagens com o contexto social e político que os rodeia. Belmonte não é panfletário quando parte para esse lado – o que ele faz é a analogia metafórica da desilusão e do caos comportamental de suas criaturas com a crise moral e ética inerente à sociedade contemporânea. Para refletir esse conturbado panorama, ele adota uma narrativa fragmentada, sem ser frouxa. A edição trepidante e a direção de fotografia que usa tons iluminados estourados em vários momentos acentuam a sensação de dissipação dos personagens e do mundo ao seu redor. E é justamente nesse aspecto que está o grande mérito de Belmonte: ele não quer apenas contar uma história, mas também passar ao espectador todo um fluxo sensorial, por mais incômodo que isso possa ser. Por isso, mesmo padecendo de uma certa irregularidade, “Se Nada Mais Der Certo” é uma das mais inquietantes produções nacionais a chegar aos cinemas nos últimos anos.

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