sexta-feira, dezembro 18, 2009

ALL SOULS ALIVE - The Blackeyed Susans


Assim como ocorre no Beasts of Bourbon, a música do Blackeyed Susans é uma espécie de confluência de alguns gêneros musicais que se unem e formam uma sonoridade admiravelmente orgânica e original. No caso dessa última, juntam-se na mesma via rock, pop, folk e country. Além disso, entre as duas bandas há uma diferença fundamental: enquanto na equação punk-blues-hard rock do Beasts of Bourbon há uma formatação coerentemente crua e sem maiores retoques de produção, no Blackeyed Susans predominam arranjos ricos em detalhes sonoros e uma produção mais refinada e dedicada a realçar o apuro melódico das canções, mas que também não abrandam o poder de fogo da sua música densa. Na sua formação, havia dois ex-integrantes do Triffids (grupo esse em que também tocou o atual baixista dos Bad Seeds e do Grinderman, Martin P. Casey), memorável banda dos anos 80, o guitarrista David McComb e o mestre do pedal steel Evil Grahan Lee, além do brilhante cantor e guitarrista Rob Snarski, o baterista Jim White (atual dono das baquetas do Dirty Three e Cat Power) e o violinista e organista Warren Ellis (também atual Bad Seeds e Grinderman, além de parceiro de Nick Cave na composição das belas trilhas sonoras dos filmes A Proposta e O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford).

O álbum de estréia do Blackeyed Susans, o fantástico All Souls Alive (1994), é uma obra-prima obscura que deveria se descoberta por todos aqueles apreciadores da música que foge das obviedades. As duas faixas que abrem o disco, A Curse on You e We Cold’ve Been Someone, são rocks de melodias torturadas e pontuadas por um proeminente órgão que lhes dá um toque atemporal. Em Every Gentle Soul e Sheets On Rain surgem inesperadas e magníficas sonoridades hispânicas, pontificadas por preciosas intervenções de mandolins e pelo violino de Ellis. A porção country da banda aparece em todo o seu esplendor nas excelentes Reveal Yourself e I Can See Now, ambas dominadas pelo sensacional pedal steel de Evil Lee. A versão para Memories, de Leonard Cohen e Phil Spector, também é um capítulo à parte, em que o violino fanfarrão de Ellis e o vocal ébrio de McComb transformam a canção numa espécie de “rock de boteco”, pronta para ser entoada num pub cheio de bebuns inveterados. Há também Apartment #9, pungente e arrebatadora balada voz-violão entremeada por toques sutis de pedal steel. O ponto culminante de All Souls Alive, entretanto, é Dirty Water, uma canção épica e amarga marcada por guitarras dramáticas e violino e órgão que dilaceram uma melodia que é pura desilusão.

Depois de All Souls Alive, o Blackeyed Susans ainda lançou o excelente Mouth to Mouth (1996) e Shangri-La (2004), o qual ainda não ouvi, ambos já sem contar com David McComb, e pouco se ouviu falar da banda depois. Independente do que haja ocorrido, todavia, os caras conseguiram deixar sua marca na história do rock, principalmente por essa jóia transtornada chamada All Souls Alive.

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