quinta-feira, outubro 14, 2010

Cantoras de Rádio, de Gil Baroni e Marcos Avellar *


Este documentário de 2008 focaliza aquele período histórico, das décadas de 30 a 50, em que predominavam nas ondas sonoras uma série de cantoras que interpretavam o que havia de melhor no nosso cancioneiro popular. Um dos principais fatores que motivou a realização desse documentário foi o sucesso artístico e comercial do recente show “Estão Voltando as Flores”, espetáculo organizado por Ricardo Cravo Albin, dedicado e experiente estudioso da música brasileira e editor e redator do excelente Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira, e que trouxe de volta para os palcos as veteranas crooners Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas, Violeta Cavalcanti e Ellen de Lima. No documentário, a narrativa se concentra nos depoimentos dessas artistas, que falam sobre as histórias de suas vidas e também contam alguns “causos” da época em que eram soberanas nas rádios e nos palcos. Além disso, “Cantoras do Rádio” traz relatos do próprio Cravo Albin e outros admiradores desse fundamental e marcante período da música brasileira e oferece um breve painel biográfico de outras artistas importantes do movimento (Carmem Miranda, Aracy de Almeida, Aurora Miranda, Dalva de Oliveira, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Linda e Dircinha Baptista, Isaura Garcia e Nora Ney). Apesar da riqueza desse material temático, “Cantoras do Rádio” tropeça como espetáculo cinematográfico. Os diretores Gil Baroni e Marcos Avellar abusam de uma narrativa didática que por vários momentos cai no enfadonho, além de contarem com uma edição que parece ter sido feita às pressas. A utilização de efeitos especiais chega ao nível do constrangedor: não se sabe se a intenção era que fosse ruim mesmo visando obter um efeito cômico ou se simplesmente o nível de competência nesse quesito é precário mesmo. Há também um equívoco no tom de abordagem escolhido para se falar sobre o tema do filme, pois predomina um certo teor lamentoso que cai em reclamações ingênuas e estéreis do tipo “por que fomos esquecidas?” ou “por que não cantamos mais nas rádios?”. Ora, são pouquíssimos os gêneros e artistas que conseguem se manter no topo de popularidade por um longo período de tempo, sendo que com o passar dos anos é normal que sejam apreciados apenas por determinados nichos de público. Isso não quer dizer, entretanto, que isso ocorra necessariamente por uma questão de qualidade artística, mas sim porque a passagem do tempo é implacável, e o que fazia sentido para um contexto histórico não faz mais para outro contexto que se sucede. É claro que esse sentimento de melancolia por um “tempo que não volta mais” é normal. Não é necessário, entretanto, que se bata insistentemente nessa tecla. E o próprio fato das protagonistas terem conseguido obter um certo reconhecimento através do espetáculo mencionado mostra que a situação atual delas não é tão inglória assim. Pessoalmente, acho que teria sido muito mais cativante para a narrativa se o roteiro tivesse se concentrado em esmiuçar de forma mais bem-humorada e vivaz as particularidades históricas e comportamentais do período do auge das cantoras de rádio, até porque os depoimentos e o material de arquivo nesse quesito seriam mais que propícios para esse tipo de abordagem.

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