quarta-feira, outubro 20, 2010

Curupira: Onde O Pai Cura e o Filho Pira, de Gustavo Moura 1/2 (meia estrela)


A câmera seguidamente treme ou parece estar fora do enquadramento certo. A montagem dá a impressão de ter sido feita com um facão. Som e luz variam seguidamente de intensidade. Parece um desastre, não é mesmo? Pois “Curupira: Onde O Pai Cura e o Filho Pira” (2007) tem todos esses defeitos e mesmo assim é uma das coisas mais divertidas que vi nos cinemas. O seu segredo, obviamente, não está nos seus méritos formais, mas na história que mostra. Em Guaramirim, minúscula cidade de Santa Catarina, o filho de benzedeiro oficial da cidade decide montar no galpão da casa da família um bar rocker chamado Curupira. Pelo palco do insólito estabelecimento passaram várias bandas da cena indie brasileira (Ratos de Porão, Replicantes, Cansei de Ser Sexy, Os Legais – estes últimos, efetivamente a pior banda do mundo!!). A família do dono do local fica responsável pela logística (incluindo a mãe do rapaz, uma pacata senhora tipicamente interiorana que se apavorava com os punks e demais malucos que aparecem por lá). Uma das maiores atrações nas apresentações é um comerciante da cidade apelidado de Bananeira que costuma nos shows subir no palco e ficar plantando... bananeira!?!. Isso tudo poder parecer alguma ficção surreal, mas “Curupira: Onde o Pai Cura e o Filho Pira” é um documentário e o tal do bar realmente existe (foi inaugurado em 1992 e está na ativa até hoje). Para narrar essa “saga”, o diretor Gustavo Moura utiliza depoimentos bem humorados (que parecem soar como “causos” recheados de lendas) e quase sempre precárias, mas reveladoras, imagens de arquivo. Por mais que as condições técnicas de “Curupira” não sejam as ideais, talvez essa rústica concepção formal do documentário acaba sendo a moldura adequada para registrar a estranha história do homem que construiu praticamente no meio do mato um primitivo templo para o rock naquilo que ele tem de mais essencial: a dança, a diversão e a fuleiragem. Em algum lugar, provavelmente, Elvis e Kurt sorriem...

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