A dinâmica obtida pela combinação entre depoimentos atuais e um farto e impressionante material de arquivo de vídeos e imagens de época em “Wilson Simonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei” (2008) é extraordinária, num belo trabalho de montagem e de elaboração de roteiro. A narrativa obedece ao tradicional formato “ascensão, apogeu e queda” (até porque com uma figura com o histórico de Simonal não poderia ser diferente), mas faz com extrema competência, dando até uma dimensão épica e trágica para o cantor. A primeira metade do filme é de uma alegria contagiante ao mostrar o auge de Simonal como um dos maiores astros musicais brasileiro, ao lado de Roberto Carlos, de fim da década de 1960 e começo dos anos 1970, repleta de momentos antológicos: os engraçados números musicais em seu próprio programa de televisão, o artista regendo uma platéia de dezenas de milhares no Maracanazinho cantando “Meu Limão, Meu Limoeiro”, o fabuloso dueto vocal com a diva Sarah Vaughan, as abusadas e irônicas entrevistas concedidas pelo cantor na época. Em compensação, a metade final é uma verdadeira descida aos infernos mostrando a decadência artística de Simonal, após a até hoje mal explicada acusação de que seria informante da ditadura militar. O contraste dos tristes episódios desse período de queda de Simonal com a esfuziante alegria dos seus melhores dias é brutal. Por mais que se tente dissecar no filme a verdade sobre a acusação que pesou sobre o cantor pelo resto da sua vida, a realidade é que os fatos relativos a tal assunto permanecem obscuros e envoltos em interpretações subjetivas, o que acaba refletindo a complexidade de um dos períodos mais conturbados da história brasileira. Talvez a única conclusão a que podemos chegar através do filme é de que, independente dele ser culpado ou inocente da acusação que sofreu, o castigo que Simonal sofreu foi pesado demais, não só para ele como para todos aqueles que gostavam, e ainda gostam, da sua música.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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