terça-feira, outubro 05, 2010

Tocaia no Asfalto, de Roberto Pires ***1/2


A seqüência de abertura de “Tocaia no Asfalto” (1962) reflete com fidelidade o espírito do filme: depois de uma breve discussão com seu antagonista, o pistoleiro Rufino (Agildo Ribeiro) dispara um tiro na testa do mesmo. A execução da cena revela um raro domínio da ação cinematográfica por parte do diretor Roberto Pires, assim como a trucagem envolvida se mostra simples, mas eficiente. Durante toda a metragem de “Tocaia no Asfalto”, pode-se perceber a destreza de Pires na manipulação dos seus parcos recursos de produção com uma criatividade de encenação apurada. O cineasta busca com constância perspectivas diferenciadas para a sua câmera. As tomadas com Rufino em uma igreja estudando as melhores posições para uma tocaia são uma oportunidade para que a direção de fotografia viaje em planos de ângulos inusitados. É interessante também a forma com que Pires transporta dentro do gênero policial uma série de referências típicas do universo social brasileiro como os pistoleiros de aluguel, a corrupção política e o coronelismo, mas sem que tal combinação pareça forçada. Antecipa, de certa forma, a integração de faroeste e regionalismo social que Glauber Rocha (discípulo de Pires) faria em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

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