quarta-feira, outubro 06, 2010

Mademoiselle Chambon, de Stéphane Brizé ***


Por mais que se possa criticar o cinema de Hollywood pelo uso recorrente de clichês, é inegável que as cinematografias de outros países também se valem de lugares comuns formais e temáticos. A produção francesa “Mademoiselle Chambon” (2009) é um exemplo claro disso. Sua trama é simples e não apresenta novidades: um discreto pedreiro (Vincent Lindon) se apaixona pela professora de seu filho, a personagem-título (Sandrine Kiberlain), com esta também desenvolvendo o mesmo sentimento por ele. Assim, aparecem os já previsíveis dilemas que os impedem de ficarem juntos, principalmente, é claro, pelo fato dele ser casado. Se o roteiro pouco inova, em termos estéticos a diretora Stéphane Brizé também não apresenta maiores ousadias dentro desse padrão de melodramas franceses. Deve-se reconhecer, entretanto, que a cineasta manipula com elogiável eficiência tais fórmulas narrativas, principalmente por uma contida ambiência emocional. Brizé valoriza silêncios, gestos e olhares, com temas musicais derivados da música clássica pontuando as cenas. Essa sutileza na abordagem proporciona uma forte tensão dramática em algumas sequências. A cena do primeiro beijos dos protagonistas, nesse sentido, é sintomática: eles ficam ouvindo um melancólico tema musical erudito, olham-se de forma tímida, pouco falam e por fim irrompe o beijo. Descrevendo assim a cena, a mesma parece até mesmo bem banal, mas a sua execução é tão fluida que acaba tendo um forte impacto. Esse tratamento formal encontra seu ápice na sequência de uma despedida entre os amantes. Ambos estão dentro de um carro, em silêncio, com a câmera os focando pelas costas. A mulher sai, afasta-se e entra dentro do seu apartamento. Nesse processo, percebe-se, mesmo não se vendo diretamente o rosto do protagonista, que lágrimas caem da sua face, com o mesmo chorando em um desespero surdo. É a força de cenas como essas que dá uma dimensão diferenciada para “Mademoiselle Chambon”, mesmo que na superfície o filme aparente ser mais do mesmo.

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