Sei que é esquisito começar a escrever sobre um filme falando sobre seus créditos finais, mas é que esse elemento de “Belair” (2009) acaba sendo bem sintomático do significado dessa produção. Nos mesmos, constam em determinado momento os nomes de pessoas que deram depoimentos neste documentário que trata da breve trajetória da produtora Belair que Julio Bressane e Rogério Sganzerla fundaram nos anos 70 e que em poucos meses gerou sete longas-metragens. Ocorre que na realidade em nenhum momento do documentário realmente fica claro que todos aqueles depoentes falaram ou se só deram um testemunho em off. Esse detalhe é revelador da proposta estética dos realizadores Noa Bressane e Bruno Safadi: para contar a história de experimentos radicais e sem concessões da Belair, não bastaria obedecer a uma comportada concepção linear. Pelo contrário: no documentário, transpira o espírito anárquico da dupla Bressane/Sganzerla, em que o erudito se mistura sem cerimônia com o popular, refletindo dessa forma a própria alma caótica de um país como o nosso. Assim, em “Belair” combinam-se sem muita ordem trechos de filmes da produtora, depoimentos atuais que parecem capturados espontaneamente, imagens de arquivo de Sganzerla em ação ou desfiando suas teorias ora lúcida ora um tanto delirantes sobre cinema e cultura brasileira. Ou seja, no geral, uma verdadeira profissão de fé sobre uma maneira criativa (e também perigosa) de se entender o fazer cinematográfico.
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