Se tem uma coisa que não dá para acusar o cineasta francês François Ozon é dele não manter uma coerência autoral em sua obra. Em “Potiche – Esposa Troféu” (2010), o diretor continua a fazer os seus experimentos de desconstrução de gêneros cinematográficos. O filme em questão apresenta uma estrutura de comédia de costumes meio bobinha, quase também nos moldes de seriados televisivos na linha “I Love Lucy”, mas situada dentro de um contexto histórico mais complexo – os turbulentos anos 70. Assim, questões espinhosas como a emancipação feminina, a liberação sexual, os conflitos de ideologia e a luta de classes passam por um viés cômico, que beira o frívolo, repletos de seqüências açucaradas, cenas de humor pastelão, revelações novelescas e exagerados figurinos de épocas. Esse choque de contradição entre os aspectos formais e temáticos de “Potiche” reflete o próprio gosto de Ozon em dessacralizar algo que, a princípio, deveria ser levado a sério. Nesse sentido, a participação de monstros sagrados do cinema francês como Catherine Deneuve e Gerard Depardieu não é gratuita – de certa forma, há uma sensação de estranhamento em ver tais artistas em meio a diálogos que chegam perto do pueril e de cenas de comédia amalucada.
A escolha de Deneuve para o papel de protagonista também deixa claro uma influência importante de Ozon em “Potiche” – o esquisito musical “Os Guarda-Chuvas do Amor” (1964), no qual Deneuve também interpretava a personagem principal. Em tal obra, o diretor Jacques Demy usava uma estrutura de filme de diálogos totalmente cantados, recurso típicos de fantasiosas produções de Hollywood, para embalar uma realista e dura história de amor não realizado, em um contraste de abordagem que se revela em sutil sintonia com a recente produção de Ozon. E para escancarar ainda mais tal referência, boa parte da ação de “Potiche” se desenrola em uma fábrica de, olha só, guarda-chuvas!!
A escolha de Deneuve para o papel de protagonista também deixa claro uma influência importante de Ozon em “Potiche” – o esquisito musical “Os Guarda-Chuvas do Amor” (1964), no qual Deneuve também interpretava a personagem principal. Em tal obra, o diretor Jacques Demy usava uma estrutura de filme de diálogos totalmente cantados, recurso típicos de fantasiosas produções de Hollywood, para embalar uma realista e dura história de amor não realizado, em um contraste de abordagem que se revela em sutil sintonia com a recente produção de Ozon. E para escancarar ainda mais tal referência, boa parte da ação de “Potiche” se desenrola em uma fábrica de, olha só, guarda-chuvas!!
3 comentários:
Caramba, acho que concordo essencialmente. Só faço uma ressalva (ou um acréscimo), acho que Potiche é o pior filme do Ozon.
Abraço!
Bah, acho que o pior do Ozon é o "Oito Mulheres". E que mesmo assim tem alguns momentos bem simpáticos, principalmente quando entra a música.
Por isso que eu amo o cinema e a democracia dele. Oito Mulheres é um dos que mais gosto. \o/
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