Há um momento no documentário “Belair” (2009) em que Rogério Sganzerla declara a necessidade da aproximação do cinema nacional com a música popular brasileira, no sentido que a mesma apresenta uma grande sintonia espiritual com o próprio Brasil. Em “Sem Essa, Aranha” (1970), uma das mais cultuadas produções da Belair, o diretor coloca em prática essa junção cinema/música. Sequências cruciais do filme trazem performances ao vivo de Luiz Gonzaga e Moreira da Silva, dois dos maiores baluartes do nosso cancioneiro. Além disso, o cineasta insere a figura inesperada de Zé Bonitinho como o protagonista Aranha. No meio de suas tiradas típicas, o comediante profere falas desconexas e interage estranhamente com as criaturas características do universo particular de Sganzerla. É claro que a combinação de tantos elementos diversos pode soar dissonantes em alguns momentos, mas em outros o filme pega na veia na união entre o experimental e o popular e o resultado é de um raro impacto sensorial. Nesse último caso, o ápice é o longo plano sequência de um número de baião alucinado de Gonzaga acompanhado por populares enquanto Zé Bonitinho delira e Helena Ignez vocifera contra o mundo. Um verdadeiro must da bizarrice cinematográfica!
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