Um olhar comparativo que se faça para “Armadilha para
turistas” (1979), procurando estabelecer uma relação com contemporâneas produções
B de horror, causa evidentes surpresas. Talvez a maior dela é observar como um
filme de gênero e de baixo orçamento de um diretor iniciante possa trazer
elementos tão sofisticados. A começar pela trilha sonora de Pino Donaggio, em
temas instrumentais de sutileza e beleza exasperantes que dão um toque que
beira o gótico às originais atmosferas de suspense engedradas pelo diretor
David Schmoeller. O roteiro revela até uma certa reciclagem típica do terror
setentista: jovens urbanos, passeando pelo interior, que são aterrorizados por
um psicótico caipira, poderes telecinéticos acionados por traumas (como não se lembrar
de “Carrie, a estranha”?). Ainda assim, tais clichês temáticos recebem um
tratamento estético rigoroso, com momentos de notável beleza visual. Schmoeller
utiliza elementos simples (uma casa velha e escura, manequins, uma mata densa)
para criar uma narrativa sufocante em termos de suspense e violência. O uso de
trucagens simples e de tons quase artesanais não soa datado e resguarda boa
parte do impacto imagético de tais efeitos. No geral, “Armadilha para
turistas”, na tradição do melhor do cinema B norte-americano, confirma a
tradição da capacidade dos filmes de gênero em trazerem uma série de ousadias
formais e narrativas, bem mais criativas, aliás, do que produções ditas
“sérias” e “artísticas”.
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