Com maior ou menor inspiração, o diretor finlandês Aki
Kaurismäki sempre exerce o seu peculiar estilo formal, em que uma abordagem
aparentemente distanciada no filmar acaba servindo como registro para uma trama
de caráter mais emocional. O choque entre a estética do cineasta e a sua temática
habitual acaba sendo a força motriz de seu cinema. Na produção francesa “O
porto” (2011), Kaurismäki continua a investir nas suas particularidades
criativas. A trama do filme tem um forte caráter social, focando questões
prementes no mundo moderno, como a crise econômica na Europa e o constante
crescimento de medidas xenofóbicas no velho continente. Aliado a isso, há
traços do gênero melodrama, principalmente quando o roteiro dá vez ao drama da
personagem esposa do protagonista que está
desenganada pelos médicos. Kaurismäki,
entretanto, evita o sentimentalismo excessivo, ainda que o desenrolar da
narrativa acabe convertendo “O porto” em uma espécie de fábula moral. Dá para
dizer que a história acaba encontrando soluções mágicas e fáceis em sua conclusão:
o policial que ajuda o pequeno imigrante a partir para a Inglaterra, a cura
quase milagrosa de referida personagem doente. Tais “concessões”, contudo, mais
acentuam a estranheza do filme do que o tornam um produto mais palatável.
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