terça-feira, julho 31, 2012

Estranhas mutações, de Jack Cardiff ***1/2


Talvez um dos aspectos mais sintomáticos que marcam as diferenças entre o cinema atual e aquele praticado algumas poucas décadas atrás é o fato, por exemplo, de uma produção B de horror setentista trazer uma reunião tão expressiva de talentos, coisa que atualmente não seria tão viável. “Estranhas mutações” (1974) é um caso claro dessa situação. Por mais que o roteiro e algumas trucagens possam parecer datados para os padrões atuais, o filme impressiona por detalhes artísticos que lhe dão um encanto atemporal. Espécie de refilmagem torta do clássico “Freaks” (1932), chegando inclusive a usar “aberrações” verdadeiras como atores (assim como na obra original), a produção dirigida pelo veterano mestre da fotografia Jack Cardiff apresenta uma atmosfera sombria, quase gótica, em que a trilha sonora de tons dissonantes e a fotografia requintada configuram uma narrativa tensa e sufocante que beira o barroco, fazendo de “Estranhas mutações” uma daquelas pérolas cinematográficas perdidas no tempo e que se grudam ao nosso imaginário como se fosse um pesadelo mal digerido.

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