Talvez um dos aspectos mais sintomáticos que marcam as
diferenças entre o cinema atual e aquele praticado algumas poucas décadas atrás
é o fato, por exemplo, de uma produção B de horror setentista trazer uma reunião
tão expressiva de talentos, coisa que atualmente não seria tão viável.
“Estranhas mutações” (1974) é um caso claro dessa situação. Por mais que o
roteiro e algumas trucagens possam parecer datados para os padrões atuais, o
filme impressiona por detalhes artísticos que lhe dão um encanto atemporal.
Espécie de refilmagem torta do clássico “Freaks” (1932), chegando inclusive a
usar “aberrações” verdadeiras como atores (assim como na obra original), a
produção dirigida pelo veterano mestre da fotografia Jack Cardiff apresenta uma
atmosfera sombria, quase gótica, em que a trilha sonora de tons dissonantes e a
fotografia requintada configuram uma narrativa tensa e sufocante que beira o
barroco, fazendo de “Estranhas mutações” uma daquelas pérolas cinematográficas
perdidas no tempo e que se grudam ao nosso imaginário como se fosse um pesadelo
mal digerido.
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