Se em “O divo” (2008) o diretor italiano Paolo Sorrentino
investiu numa visceral mescla de thriller político e filme de máfia, em “Aqui é
o meu lugar” (2011) ele concebe uma obra de caráter mais contemplativo, repleta
de estranhos simbolismos. A insólita mistura de gêneros continua presente: há
elementos de road movie, toques de drama de guerra, por vezes uma atmosfera de
comédia agridoce (evocando algo das produções setentistas de Hal Ashby).
Acentuando ainda mais esse clima de estranheza, o fato do filme mostrar um rock
star aposentado possibilita uma série de referências à cultura rock. E que
acabam não sendo gratuitas: Cheyenne (Sean Penn) parece um misto de Robert
Smith e David Bowie, conectando duas linhagens importante na história do rock,
o gótico e o glam. Esses estilos são bastante ligados a conceitos como a
melancolia, o ridículo e a decadência, características essas que baseiam muitas
tanto atitudes de Cheyenne como situações do roteiro. Assim, por mais
esquisitos e improváveis que sejam os rumos da trama, há uma coerência na conexão
de elementos tão distintos. Sorrentino amarra tudo isso dentro de uma concepção
formal de certo rigor estético, privilegiando ora planos fixos, ora planos seqüências.
Sua abordagem emocional distanciada afasta seu filme do sentimentalismo fácil,
fazendo com que transite numa área nebulosa entre o solene e o irônico. Ainda
que não apresente a fúria criativa e épica de “O divo”, Sorrentino elabora em “Aqui
é o meu lugar” uma obra cativante e de forte cunho autoral.
Um comentário:
Ainda essa semana pretendo assistir e dizer o que eu achei.
Postar um comentário