quarta-feira, outubro 17, 2012

Aqui é o meu lugar, de Paolo Sorrentino ***1/2


Se em “O divo” (2008) o diretor italiano Paolo Sorrentino investiu numa visceral mescla de thriller político e filme de máfia, em “Aqui é o meu lugar” (2011) ele concebe uma obra de caráter mais contemplativo, repleta de estranhos simbolismos. A insólita mistura de gêneros continua presente: há elementos de road movie, toques de drama de guerra, por vezes uma atmosfera de comédia agridoce (evocando algo das produções setentistas de Hal Ashby). Acentuando ainda mais esse clima de estranheza, o fato do filme mostrar um rock star aposentado possibilita uma série de referências à cultura rock. E que acabam não sendo gratuitas: Cheyenne (Sean Penn) parece um misto de Robert Smith e David Bowie, conectando duas linhagens importante na história do rock, o gótico e o glam. Esses estilos são bastante ligados a conceitos como a melancolia, o ridículo e a decadência, características essas que baseiam muitas tanto atitudes de Cheyenne como situações do roteiro. Assim, por mais esquisitos e improváveis que sejam os rumos da trama, há uma coerência na conexão de elementos tão distintos. Sorrentino amarra tudo isso dentro de uma concepção formal de certo rigor estético, privilegiando ora planos fixos, ora planos seqüências. Sua abordagem emocional distanciada afasta seu filme do sentimentalismo fácil, fazendo com que transite numa área nebulosa entre o solene e o irônico. Ainda que não apresente a fúria criativa e épica de “O divo”, Sorrentino elabora em “Aqui é o meu lugar” uma obra cativante e de forte cunho autoral.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Ainda essa semana pretendo assistir e dizer o que eu achei.