Refilmagem de uma obra homônima de 1963, “13 assassinos” (2010)
evoca algo de Akira Kurosawa, principalmente daquelas produções com samurais
como “Os sete samurais” (1954) e “Yojimbo” (1961). Reduzir o filme do diretor Takashi
Miike, entretanto, como mera recriação ou reciclagem seria uma visão equivocada.
Até porque não daria para esperar muitas obviedades ou revisões meramente nostálgicas
do cineasta que concebeu obras extremas como “Audition“ (1999) ou “Ichi The
Killer” (2001). Miike parte de uma estrutura clássica de narrativa para
perverter os tradicionalismos do gênero como uma abordagem perturbadora. A
trama apresenta a velha divisão entre mocinhos e vilões, mas aos poucos essa lógica
vai ser tornando cada vez mais difusa – os assassinos do título são samurais e
ronins que até vislumbram o fato de agirem no nome de um bem maior, mas sua
verdadeira motivação é a possibilidade de morrer com honra em combate. Essa
obsessão é retratada com traços por vezes doentios e irônicos – no meio de
cenas violentas e demais atrocidades, pode-se perceber o toque sutil de Miike
quando em determinadas seqüências os seus “heróis” traem um sorriso discreto. E
a encenação do diretor é primorosa na combinação de estéticas formais
diferentes, entrecruzando uma pegada naturalista de muito sangue, chuva e barro
a um tom eventualmente épico pelo virtuosismo de fotografia e montagem. Permeando
esse estranho formalismo, há uma atmosfera de distanciamento emocional,
resultando numa obra sensorialmente desconcertante.
Um comentário:
É um verdadeiro banho de sangue a meia hora final. Recomendo.
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