quarta-feira, novembro 28, 2012

Tropicália, de Marcelo Machado ***1/2




Antes de mais nada, cabe dizer que a pretensão do diretor Marcelo Machado em “Tropicália” (2012) não é fazer um retrato objetivo e definitivo sobre o movimento musical em questão. O viés do documentário é mais subjetivo e pessoal, no sentido de captar as impressões de alguns dos principais artífices daquilo que se convencionou chamar de Tropicália. Dentro dessa concepção, pode-se perceber tons diferentes que variam durante a narrativa de acordo com o depoente. Quando Tom Zé tem a palavra, há algo de messiânico e delirante no ar – tanto que o músico em alguns momentos quebra a própria estética sóbria adotada por Machado ao sair do enquadramento delimitado formalmente para expor suas teorias históricas e apocalípticas. Já com Gilberto Gil a atmosfera burilada evoca serenidade. E quando as lentes se voltam para Caetano Veloso, esse adota uma postura que beira o melancólico, o que provoca até uma contradição perturbadora com os próprios preceitos artísticos da Tropicália, um estilo marcado pela ironia, escracho e uma certa alegria. Veloso enfatiza as perdas que teve com a consequente perseguição política que sofreu com a ditadura militar pela sua participação no movimento, e questionando o que poderia ter sido da sua vida senão tivesse sido preso e exilado. Geralmente o cantor é acusado de ser uma espécie de ator de si mesmo. E se na produção em questão ele está realmente atuando, há de se convir que Caetano Veloso é um intérprete dramático bem convincente...
As diferenças de espírito que se estabelecem entre os protagonistas de “Tropicália” acabam oferecendo uma dimensão humana e cultural ainda mais complexa para a temática abordada por Machado, o que aliado a preciosos registros visuais históricos e à bela trilha sonora (com as inevitáveis canções mais emblemáticas do movimento) compõe um documentário envolvente, não só pelo seu aspecto histórico, mas também pelo prazer sensorial de suas imagens e sons.

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