Talvez o fato da diretora Isa Grispum Ferraz ser sobrinha do
guerrilheiro Carlos Marighella possa fazer supor que o documentário “Marighella”
(2011) seja uma obra hagiográfica em relação a figura cinebiografada em questão.
A proposta da cineasta, entretanto, não é a de se ater a um registro objetivo
dos fatos. Sua abordagem justamente aproveita o seu parentesco para realizar
uma contraposição entre a figura pública do tio com a do homem boa praça com
quem teve um breve e ameno contato doméstico. Isa Ferraz não apresenta
respostas prontas para o espectador – na verdade, a platéia é quase uma cúmplice
da diretora na construção do quebra-cabeça que representa a vida de Marighella.
Em alguns momentos, ela prefere expor facetas pouco conhecidas do protagonista,
principalmente ao evidenciar a sua veia poética. Mas isso não quer dizer que
abdica de mostrar os principais fatos que tornaram Marighella um dos mais notórios
rebeldes da história do Brasil. Um dos pontos mais interessantes do filme está
justamente nessa tendência em confrontar a exposição de um lado mais intimista
do guerrilheiro, tanto nas suas tendências para o lirismo quanto no romantismo
de sua vida amorosa, com a sua personalidade explosiva como desafiador da ordem
vigente. Assim, a profusão de imagens de arquivos e depoimentos mais configura
um imaginário sentimental e político sobre Marighella do que uma investigação
jornalística. Em termos cinematográficos, essa escolha estética e temática da
diretora se revela mais fascinante ao dar um caráter perene e instigante para o
seu documentário.
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